ASSISTA MISSÃO BOLÍVIA, COMPLETO NO YOU TUBE

Congresso brasileiro será usado como palco de propaganda chavista

Convidado por parlamentares do PT e PSOL, emissário do governo venezuelano vem ao Brasil defender o governo de Nicolás Maduro das acusações de prisões políticas e violações aos direitos humanos

Entre as técnicas de propaganda política mais bem desenvolvidas em Cuba está a de contrainformação ou guerra ideológica. Em síntese, significa replicar as tímidas iniciativas democráticas com atos a favor da ditadura na tentativa de neutralizá-las. Para abafar um protesto popular, marca-se outro no mesmo dia, na mesma cidade. Para contrabalançar uma união legítima de trabalhadores, inventa-se um sindicato pelego. Para invalidar uma organização como a Organização dos Estados Americanos (OEA), cria-se outra com os mesmos fins, a Unasul.


"Defensor do Povo", o venezuelano Tarek Saab veio ao Brasil para justificar as violações do governo Maduro (VEJA.com/Reprodução)

Esta semana, o mesmo expediente cubano, que hoje é adotado extensivamente na Venezuela e na Bolívia, está sendo usada no Brasil a pedido de parlamentares petistas. O objetivo desta vez é o de neutralizar a visita de duas mulheres de prisioneiros políticos venezuelanos. Lilian Tintori, mulher do ex-prefeito de Chacao Leopoldo López, e Mitzy Capriles, esposa do prefeito de Caracas Antonio Ledezma, chegaram ao Brasil no final de semana para angariar apoio internacional e tentar a libertação de seus maridos, que seguem dentro da cela e sem julgamento. Elas já conversaram com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na agenda, as duas possuem uma visita à Câmara dos Deputados e não escondem que sonham com um encontro pessoal com a presidente Dilma Rousseff.

A contraofensiva deve acontecer com a vinda do venezuelano Tarek William Saab, que tem o cargo de "defensor do povo" no governo de Nicolás Maduro. Na mesma quinta-feira 7, dia em que Lilian e Mitsy chegam a Brasília, Saab será ouvido pelas comissões de Direitos Humanos do Senado e de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.

Saab foi convidado pelo senador Lindberg Farias (PT-RJ) e pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Os dois apresentaram requerimentos solicitando a vinda do venezuelano.

Em seu cargo de "defensor do povo", Saab apoiou a repressão contra os protestos de rua que ocorreram em fevereiro de 2014. Naquele episódio, a brutalidade das forças de segurança e de milícias pró-governo contra a população deixou mais de quarenta mortos e quase novecentos feridos.

No mês passado, Saab liderou, ao lado de Maduro, os protestos contra a decisão do governo dos Estados Unidos de congelar bens de sete políticos, burocratas e membros das forças de segurança venezuelanas. Eles foram acusados de patrocinar e ordenar a repressão no início do ano passado.

Saab também apoia a lei que liberou o uso de armas de fogo para reprimir as manifestações de rua. Segundo ele, o arsenal só será usado em ações extremas.

Quando instado pela rede americana CNN a responder sobre as acusações de maus-tratos e torturas nas prisões venezuelanas, o convidado de Lindberg Farias e Ivan Valente recusou-se a responder e responsabilizou os cidadãos presos pelas ondas de violência e seu país.

Tarek William Saab é formado em Direito e atuou - de verdade - na defesa dos direitos humanos por vários anos. Até a década de 90, ele era reconhecido pelas suas boas intenções. Nos anos 1990, contudo, ele ganhou notoriedade ao defender os militares presos após uma tentativa fracassada de golpe, em 1992. Entre eles estava o coronel Hugo Chávez. A aproximação com o caudilho fez com que Saab passasse a ser visto como um traidor da causa.

Com a eleição de Chávez em 1998, Saab entrou para o coração do chavismo. Foi deputado e governador por dois mandatos. "Todos nós o tínhamos como um homem bom. Mas os atos que ele demonstra hoje são uma negativa completa de seu passado", diz o ex-membro do governo. "O advogado Saab fecha os olhos para uma realidade de violação aos direitos humanos que na Venezuela de hoje é muito pior que há duas décadas", diz.

Veja